... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso,
da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades,
de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...


Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano III Número 36 - Dezembro 2011

Entrevista - Décio Pignatari

Persecutors, Alex Andreyev
pignatari: a comunicação pensada
Trechos de uma entrevista de Décio Pignatari para o Jornal do Escritor, publicado sob o título acima em Contracomunicação, Décio Pignatari, Editora Perspectiva, São Paulo, 1971.
Jornal do Escritor: Do ponto de vista da atual conjuntura - reprodução em massa, novos sistemas de comunicação etc. -, como se situam a obra e o produtor?

Décio Pignatari: Não há obra. Mesmo a idéia de obra aberta, ainda no sentido de salvar a idéia de obras. Embora alguns tenham continuado a fazer obra, o Lance de Dados de Mallarmé colocou em choque a obra: não é nem obra nem não-obra. É uma coisa nova. Estamos falando de invenção, isto é, das informações de estrutura de primeiro grau. A única coisa que importa, hoje, são projetos de invenção para invenções futuras. Enfim, entramos na era semiótica ou NA era da linguagem intersemiótica. A obra reverteu à vida. É necessário repensar, recriar tanto uma coisa como a outra, isto é, tanto os signos como a vida. O computador é o grande instrumento para esse tipo de indagações. Quero dizer que as vanguardas hoje pertencem ao consumo. Fazem parte da compra. E a vida no Ocidente virou Museu.

Sexo. Dentro de poucos anos o sexo só terá alguma graça na vida dos sete aos vinte anos. Com a pílula, o sexo virou bem de consumo. Passou à categoria dos comforts.

JE: Politicamente, é a ideologia de Marshall McLuhan conservadora?
DP: É simplesmente uma abertura mística. O que ele dá é uma abertura para o misticismo da Era Eletrônica. Nesse sentido é conservador, mas isto não importa nele. O que o pessoal odeia ver no McLuhan é que ele transpôs para o veículo (médium) a visão mallarmaica. É isso que o pessoa detesta. E esta visão é estrutural e não tem nada a ver com ideologia, que de resto é a visão de Marx. Pra mim, Marx é um estruturalista. O que o pessoal detesta e ter que jogar fora o seu livrete de serviços dos veículos semânticos.

Há duas provas contundentes de que o meio é a mensagem. Primeira: o homem entendido como meio, veículo. Como separar a sua forma do seu conteúdo? Segunda prova: por que as mulheres intelectuais, ligadas aos livros, tendem a se masculinizar e perder a feminilidade? Porque a palavra escrita é um meio quente, impede a participação e rebaixa os sentidos que, na mulher normal, são mais equilibrados do que no homem.

JE: É o Terceiro Mundo?
DP: Acho que a própria idéia do Terceiro Mundo é uma idéia que está se esfacelando. Estaremos sempre em busca de um enésimo mundo. O que se chama Terceiro Mundo é um mundo que luta por industrializar-se. E para que ele realmente exista como terceiro, ou seja, como opção, em relação aos dois outros, é preciso incentivar a criatividade, em todos os campos, para tentar fugir à inevitável subserviência ao know-how de primeira mão, vindo das principais potências de um campo, ou de outro.

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